segunda-feira, abril 10, 2006

a-do-ro.

[sobre a prosa, por Rubem Alves]

"Prosear é um jeito de falar. Fala sem objetivo definido, como o vôo dos urubus - indo ao sabor do vento.

Palavras fluindo. Um jeito taoísta de ser.

Para prosa não existe 'ordem do dia', não há conclusões, não há decisões. A prosa não quer chegar a nenhum lugar. A prosa encontra sua felicidade em prosear.

Como andar de barco a vela em que o bom não é chegar mas o 'estar indo'. 'A coisa não está nem na partida nem na chegada, mas na travessia', Guimarães Rosa.

Prosear é brincar com as palavras. Como o tênis e o frescobol.

O Tênis tem um objetivo preciso: reduzir o outro ao silêncio por meio de uma cortada. Ter razão. Ganhar o argumento. Convencer. Sempre termina mal. Um ganha, fica feliz e se sentindo superior. O outro perde, fica com raiva e se sentindo inferior.

Frescobol é diferente. A felicidade do jogo está em estar acontecendo, em não parar, vai, vem, vai, vem, vai, vem, como numa transa indiana, sem orgasmo, feita de um prazer permanente que não acaba.

O orgasmo na transa, como a cortada no tênis, são o fim do brinquedo. Saber prosear, jogar conversa fora, é o segredo das relações amorosas.

Nietzsche dizia que quando se vai casar a única pergunta importante a se fazer é 'terei prazer em conversar com essa pessoa quando eu for velho?' "



sexta-feira, abril 07, 2006

huckabees

[a vida é uma comédia]

O círculo independente de Hollywood anda mesmo com uma mania terrível (e bacana) de ousar em seus enredos. Não digo ousar em termos de polêmica, mas as histórias estão cada vez mais malucas e viajadas. Quer um exemplo? Então dê uma olhada em I Love Huckabees, o novo trabalho do ótimo cineasta David O. Russell. Depois de surgir no mapa com o estranho road-movie Procurando Encrenca (Flirting With Disaster) e se consolidar com o fantástico Três Reis (Three Kings), Russell se juntou ao roteirista estreante Jeff Baena para criar, em suas palavras, "uma comédia existencialista".

Ah, eu gostei.

E você?